Pela proximidade com a USP, muitos estudantes passaram a frequentar os cultos. Um deles, Alexandre Bizetti, logo começou a tocar violão nos cultos e em todas as atividades infantis. Um dia, ele procurou a direção da igreja e apresentou uma proposta de morar nas dependências da igreja durante a semana, comprometendo-se a deixar tudo arrumado para as classes de ED do domingo. Ao concordar com a ideia, não sabíamos que estávamos iniciando um dos maiores projetos, a “Casa dos Estudantes”.
Mais um projeto que começou com uma pequena ideia, ousada, que trouxe abrigo para mais de cem estudantes desde então. Moravam nas salas que eram usadas aos domingos pela escola dominical. Antes das aulas, uma correria: louças sujas esquecidas sobre a pia da cozinha eram escondidas no armário e as professoras tinham de verificar se era possível entrar nos quartos, normalmente bagunçados. Para as crianças, uma diversão: nada como brincar de esconder sob montanhas de lençóis e roupas sujas! Não, nem sempre foi uma convivência fácil, mas ao longo do tempo a IPBut aprendeu: nossa missão é cuidar desses estudantes agora. O futuro deles está nas mãos de Deus. Moraram aqui brasileiros de todos os lugares, peruanos, colombianos, um queniano, estadunidenses, uma australiana, pessoas da igreja presbiteriana e de outras igrejas, fazendo parte de nossa comunidade por um período ou definitivamente. Muitos deles, vindos de cidades pequenas, conheceram aqui o que é um McDonald ‘s, uma escada rolante ou o metrô. Aprenderam que não dá para guardar iogurte no armário e comeram incontáveis pacotes de miojo. Entre os jovens que participaram da “Casa dos Estudantes”, elegemos diáconos e pastores, além de muitos profissionais que trabalharam na ONU, no Ministério da Saúde e em outros lugares de destaque.
Em 2016 uma das jovens da Igreja questionou: por que ter apenas abrigo para moços e não expandir o projeto para as meninas também? Como não havia espaço dentro das dependências da igreja, procuramos um apartamento. A primeira “Casa das Meninas” recebeu quatro estudantes. Quando finalmente a igreja adquiriu a Casa 3, o alojamento das meninas pôde crescer e a comunidade foi enriquecida com mais estas moradoras.
Após muitas reuniões, criou-se um manual para os moradores da casa com regras claras e estabelecidas para uma melhor convivência. Um dos presbíteros, que já havia morado na casa, viu a necessidade de cuidar melhor de cada um dos moradores, e propôs um projeto de apadrinhamento: cada estudante seria apadrinhado por uma família da comunidade. Uma casa para almoçar no domingo, um presente para o Natal, um abraço amigo e uma família para conversar. Após alguns anos, o apadrinhamento começou a ser estendido para outros estudantes que moram em repúblicas perto da igreja e que se sentem solitários.
Com o tempo, um incômodo começou a se tornar cada vez maior dentro da comunidade: os estudantes precisavam de acomodações melhores. O primeiro imóvel da igreja, uma casa tão antiga, precisava de muitas reformas, incapaz de atender à demanda. O ideal seria construir algo novo, adequado e adaptado às necessidades dos estudantes. Mas como? Novamente, o sonho levou a um projeto e uma proposta. A ideia foi apresentada à Junta Patrimonial da IPB, que se entusiasmou e apoiou a construção de uma Casa de Estudantes. Este poderia se tornar o projeto-piloto para várias outras moradias semelhantes espalhadas pelo Brasil. Com as doações, a antiga casa foi demolida. Ao se despedirem de seu antigo lar, os estudantes aproveitaram para grafitar todas as paredes, numa explosão de alegria, da qual logo os outros membros da igreja participaram: mais um sonho a se tornar realidade.